Inquisição Católica - Quantos Morreram?

A luz da pesquisa moderna somos forçados a aceitar um mínimo número de mortes pela Inquisição.

O Drama da Inquisição


O tema Inquisição já rendeu muita discussão. Alguns sugerem que sua atividade resultou apenas em alguns milhares de mortos enquanto outros calculam dezenas de milhões de vítimas. Então, como podem as estimativas ser tão amplamente divergentes? Ou, como podemos chegar a uma conclusão acerca de quantos morreram sob a Inquisição?! 

Para responder tais questionamentos é importante que se tenha em mente a devida distinção entre a Inquisição e o que seriam outras perseguições promovidas pelo catolicismo romano e para além disto, jamais devemos nos arriscar em estipular um cálculo exato do número de mortes se baseando em dados imprecisos. Muitos inadvertidamente tem ampliado o conceito de Inquisição incluindo em seu contexto eventos que em nada podem ser relacionados a sua atividade e o resultado disto são os mais variados cálculos inflados que embora incluam execuções indevidas que foram promovidas pelo catolicismo romano todavia não se referem a Inquisição. Outros tantos por sua vez, omitem ou reduzem os cálculos para favorecer uma abordagem revisionista alegando um mínimo numero de mortos por condenação porém ignorando outras vítimas envolvidas em processos de acusação.

Diante de um dramático cenário de revisionismo ou ampliação indevida é necessário distinguir entre Inquisição e o que podemos chamar de outros eventos promovidos contra não católicos, para então obtermos um cálculo seguro e sem exageros.

Abordagem dos cálculos e registros

Em se tratando do número de mortos na Inquisição, a imprecisão dos registros históricos indica que os historiadores contemporâneos são forçados a extrapolar com base em informações limitadas que eles possuem. O eclesiástico e historiador espanhol Juan Antonio Llorente (1756-1823), Secretário-Geral da Inquisição desde 1789, tentou fazer uma profunda revisão da instituição, por ordem do Inquisidor-Geral. Em sua História da Inquisição de Espanha (1817) ele fez um dos primeiros cálculos da Inquisição e registra que o número total de "hereges" queimados na fogueira durante a Inquisição espanhola totalizaram quase 32.000. Llorente acrescenta que outras 300.000 foram levadas a julgamento e forçadas a fazer penitência (cf. Cecil Roth, A Inquisição espanhola [WW Norton, 1964; reimpressão, 1996], 123).

Mas há uma considerável controvérsia sobre a precisão dos números fornecidos por Llorente. Como resultado, os historiadores devem decidir se querem ou não tomar esses números pelo valor que ele apresenta. Alguns acreditam que os números são muito baixos e deve ser ajustado para um cálculo mais elevado. No entanto, a maioria dos estudiosos modernos acreditam que seus números já são muito altos. William D. Rubinstein resume o consenso dos estudiosos modernos:
      • Nada em toda a história da Igreja Católica fez mais do que a Inquisição para condena-la aos olhos dos racionais, pensadores esclarecidos, ou para dar-lhe a reputação de barbárie medieval que manteve em muitos lugares até recentemente. A Inquisição só foi formalmente abolida no início do século XIX. No entanto, também parece claro que o número de vítimas da Inquisição pode ser facilmente exagerado. Juan Antonio Llorente (1756-1823), inimigo feroz da Inquisição, cuja História Crítica da Inquisição de 1817-19 continua a ser a obra mais antiga que atacou tudo o que se relaciona com ela, estimou o número de execuções realizadas durante todo o período que a Inquisição espanhola existia, desde 1483 até sua abolição por Napoleão, em 31.912, com 291.450 "condenados a servir penitências.". . . Os historiadores mais recentes consideram até mesmo este número como muito alto. (William D. Rubinstein, Genocide [Routledge, 2004], 34).

A abordagem conservadora da ciência moderna pode ser vista nos escritos de Henry Kamen, que é uma das maiores autoridades sobre a Inquisição espanhola. Seu trabalho em A Inquisição espanhola é publicado pela Yale University Press (quarta edição, 2014). A pesquisa de Kamen levou-o a concluir: 
"Podemos com toda a probabilidade aceitar a estimativa, feita com base na documentação disponível, que um máximo de três mil pessoas podem ter sofrido morte durante toda a história do tribunal" (. P 253).
As estimativas de Kamen podem ser muito baixas, mas representam a perspectiva geral dos estudiosos contemporâneos. Os historiadores modernos notam também que a Espanha do século XVI (durante o auge da Inquisição espanhola) só tinha uma população total de cerca de 7,5 milhões de pessoas (cf. John Huxtable Elliott, Espanha e seu mundo, 1500-1700 [Yale University Press, 1989] , 223). Por conseguinte, a noção de que a Inquisição espanhola poderia ter causado a execução de dezenas de milhões de pessoas durante esse mesmo período de tempo, parece matematicamente insustentável.

Distinção entre mortos diretos e vítimas consequentes

Alguns historiadores anteriores parecem ter confundido o número de pessoas mortas com o número total de pessoas perseguidas pela Inquisição. Em outras palavras, quando se fala em "vítimas da Inquisição", eles não especificam entre os que foram executados e aqueles que eram apenas presos ou forçados a fugir por causa da perseguição em erupção. Obviamente, dependendo de como se define uma vítima, o número de vítimas pode variar amplamente. Ou seja, podemos afirmar que apenas dezenas de milhares foram executadas, mas, centenas de milhares foram vítimas de alguma forma.

David Plaisted (professor de ciência da computação na UNC) observa essa possibilidade em seu estudo intitulado "As estimativas do número de mortos pelo Papado na Idade Média". Ele afirma que o número de execuções durante a Inquisição espanhola poderia ser um pouco maior do que apenas alguns milhares. No entanto, ele reconhece que números muito altos (fornecidos por alguns historiadores anteriores) podem incluir todos os que foram levados a julgamento, e não apenas aqueles que foram mortos. Além disso, algumas das maiores estimativas prováveis incluem não-protestantes (como populações judaicas e muçulmanas) que foram expulsos da Espanha, como resultado da perseguição. Se assim for, isso ajuda a explicar onde essas grandes estimativas se originaram.

Inquisição e outros eventos

A divergência de cálculos sobre o número de mortes também decorre da fusão ou exclusão da Inquisição com outros eventos da história europeia.  Em sentido restrito, o termo "Inquisição" refere-se a processos oficiais conduzidas pelas autoridades católicas romanas em lugares como Espanha e Portugal. Quando a questão é limitada a apenas essas inquisições, o número de executados provavelmente se resume a casa dos milhares ou dezenas de milhares.

No entanto, se o termo é usado em um sentido amplo, para representar toda a atividade Católica Romana quer seja de iniciativa secular ou eclesiástica contra os não-católicos por toda Europa ou além dela, então os números sobem drasticamente. Se o historiador inclui formas de tortura e morte que não envolvem um julgamento formal, juntamente com guerras religiosas e outras formas de violência Católica promulgada contra os protestantes e outros não-católicos (envolvendo também áreas fora da Espanha e Portugal), então pode-se facilmente falar em termos de milhões de pessoas que foram mortas.

David Plaisted reconhece esta realidade em seu estudo: a saber, que as reais grandes estimativas de protestantes mortos pelo papado ao longo da história europeia incluem, necessariamente, aqueles que morreram em conflitos religiosos como a Guerra dos Trinta Anos. 

Quantos foram mortos durante a Inquisição?

Nas palavras de Nathan Busenitz, umas das referências na elaboração deste artigo, isso depende de como você está usando a palavra "Inquisição." E mesmo assim, a realidade é que ninguém sabe ao certo. No entanto, se estamos simplesmente falando de execuções oficiais durante a Inquisição espanhola, a maioria dos especialistas contemporâneos iria colocar o número total de execuções entre 3.000 ou 10.000, talvez com um adicional de 100.000 para 125.000 morrendo na prisão como resultado de tortura e maus-tratos. A Inquisição no vizinho Portugal por exemplo, resultou ainda em menos mortes (cf. Joseph Perez, A Inquisição Espanhola[Profile Books, 2006], 173; RJ Rummel, Mortes pelo governo [de Transaction Publishers, 2009, 2009], 62).

Portanto, é importante especificar a diferença entre a referência aos mortos pela Inquisição e os que morreram em outros eventos promovidos pelo catolicismo romano. A luz da pesquisa moderna somos forçados a aceitar um mínimo número de mortes pela Inquisição. Entretanto, essa mesma abordagem crítica e revisionista em seu devido contexto nos leva também a concluir um elevado número de mortes por parte do catolicismo romano em diversos eventos promovidos contra os não-católicos.

Att: Elisson Freire

Licenciado e Pós-graduado em História. Bacharelando em Teologia. Cristão de tradição batista e acadêmico em apologética cristã...
(Saiba mais)

13 comentários

Para serem publicados, os comentários devem ser revisados ​​pelo administrador.
Confira nossa: Politica de Moderação de Comentários
  1. Achei bem pouco. O Olavo uma vez citou uma autoridade em números de mortos, ou seja, uma pesquisa séria, sobre as mortes pelo comunismo. O site é este: http://www.hawaii.edu/powerkills/. Pelo que eu entendi, o número de mortos pela inquisição, varia de 251.000 a 477.000 pessoas. Acho já um número mais próximo do correto. considerando que a perseguição e ameaças devem abranger umas 10 vezes esse número, temos um total de 5 milhões de pessoas perseguidas pela inquisição, o que também parece ser um número próximo do real. Tudo isso é impossível de se saber ao certo, mas fazer revisionismo porco e com base em documentos secretos e próprios não é o melhor método. Que foi uma ameaça duradoura e longa isso é verdade, já que os relatos de horror da época já demonstram isso.
    1. O Revisionismo católico atual é realmente ignorante, como dito acima, é preciso distinguir entre mortos diretos e vítimas consequentes. Alguns parecem reduzir as vítimas apenas aos que morreram condenados, mas ignoram outros resultados como o fato de que, muitos perdiam tudo e acabavam na sarjeta apenas por serem acusados mesmo injustamente. Outros morriam doentes depois dos maus tratos e outros tantos definhavam de fome e pela miséria que lhes fora causado pelo fato de serem julgados, mesmo que absolvidos depois.

      Outra coisa a se notar é que é preciso distinguir, como eu disse acima, entre Inquisição e outros eventos. A divergência de cálculos sobre o número de mortes também decorre da fusão ou exclusão da Inquisição com outros eventos da história europeia. Em sentido restrito, o termo "Inquisição" refere-se a processos oficiais conduzidas pelas autoridades católicas romanas em lugares como Espanha e Portugal. Quando a questão é limitada a apenas essas inquisições, o número de executados provavelmente se resume a casa dos milhares ou dezenas de milhares.

      No entanto, se o termo é usado em um sentido amplo, para representar toda a atividade Católica Romana quer seja de iniciativa secular ou eclesiástica contra os não-católicos por toda Europa ou além dela, então os números sobem drasticamente. Se o historiador inclui formas de tortura e morte que não envolvem um julgamento formal, juntamente com guerras religiosas e outras formas de violência Católica promulgada contra os protestantes e outros não-católicos (envolvendo também áreas fora da Espanha e Portugal), então pode-se facilmente falar em termos de milhões de pessoas que foram mortas.
    2. Com certeza. Mas seria muito mais correto que eles realmente pedissem desculpa por todo o mal que causaram. Fizeram essa revisão, montaram o livro L'inquizione, o qual foi discutido, revisado e compilado pelos seus, e chegaram a conclusão que mataram apenas algumas dezenas de milhares. Aí pedem desculpas por estes. Pô, vai ser cara de pau lá longe. Errado somos nós que tentamos ver os fatos e não acreditamos em instituição infalível.
  2. O PROTESTANTE NANDO MOURA PARECE ATÉ ESTAR DANDO UMA RESPOSTA AO ELISSON FREIRE SOBRE A INQUISIÇÃO: https://www.youtube.com/watch?v=hSOFtf9lLZU&feature=youtu.be
    1. Creio que o Fernando não leu meu artigo e nem viu o video do Nando que de cara, cita uma das fontes que mencionei como válida e calcula só na inquisição espanhola cerca de 3 mil mortes por condenação.

      Fernando como um analfabeto funcional não percebeu que fiz distinção entre inquisição e outros eventos de perseguição a nao catolicos, como judeus e protestantes alem de precursores da reforma.

      Aqui está meu artigo apoiado pelo nando moura pra desgosto do Fernando.

      http://resistenciaapologetica.blogspot.com.br/2016/11/inquisicao-catolica-quantos-morreram.html
    2. Esse Fernando Nascimento é tão imbecilizado, que chama o Nando Moura de "protestante", mesmo com o próprio Nando já afirmando diversas vezes que NÃO é protestante. Mas o que esperar de alguém que mente logo na primeira palavra que escreve?
  3. Acontece que a Inquisição começou com Constantino oficializando o catolicismo e colocando sob pena de morte (na fogueira) todos que se recusassem a converter-se a religião estatal. Então temos, de 325 a 1870 pessoas sendo perseguidas, mortas, torturadas e roubadas por esta religião maldita e assassina. O ex padre Aníbal Pereira dos Reis, escreveu que, segundo alguns historiadores, o catolicismo é responsável por cerca de meio bilhão de mortes durante este período. Vale dizer que muitas guerras, revoluções, incluindo as duas grandes guerras mundiais, foram causadas diretas ou indiretamente pelo catolicismo. Os papas, Carlos Magno, os reis da Espanha, Portugal, França, o Cardeal Richelieu, Napoleão, Mussuline, Hitler afora outros revolucionários ou conspiradores, mataram muitos milhões sob ordem direta, indireta, ou pela influencia maldita dos papas. Enfim, a coisa deve ser avaliada segundo a lista acima, afora matanças, conspirações e escaramuças praticadas por elementos do catolicism…
  4. Deixei de citar as malditas cruzadas católicas que, alem de matar árabes e judeus, matou milhares de cristãos ortodoxos, de outros cristãos, albigenses etc. etc. como cerca de um milhão de valdenses pelo maldito papa Inocêncio terceiro