Novos fatos sobre a caça às bruxas

Novos fatos sobre a caça às bruxas desfaz exageros mas derruba revisionismo católico.
Bruxas

Análise de novos dados sobre a caça às bruxas


Um recente estudo realizado por dois economistas da Universidade George Mason, na Virgínia derruba o exagerado cálculo que atribuía a cristandade o "extermínio" de 9 a 10 milhões de supostas bruxas na Idade Média e no período das disputas religiosas na era pós Reforma Protestante.

O Estudo Witch Trials por Peter T. Leeson e Jacob W. Russ aponta que ao longo de um século e meio, 80 mil pessoas foram julgadas por bruxaria e metade delas foram executadas. Os dados mostram que a caçada contra as bruxas decolaram somente após a Reforma Protestante em 1517, seguindo a rápida propagação do protestantismo. Os economistas Peter Leeson e Jacob Russ argumentam que, o ápice das perseguições foram atingidos entre 1555 e 1650, nos anos em que houve o que eles chamam de "competição de mercado religioso", evidenciado pela Contra-Reforma católica durante a qual as autoridades católicas reagiram contra o avanço protestante na conversão dos católicos para as novas formas de adoração em todo o mundo e em grande parte da Europa.

A nova análise mostra que assim que a Reforma decolou e teve sua atividade tolerada, os católicos na tentativa de retomar esses territórios não só iniciavam conflitos onde sua Inquisição não tinha poder, como também aumentavam a incursão de caça as bruxas na tentativa de demonizar seus rivais e então justificar suas perseguições. O estudo sugere que a "bruxomania" ou a alta de perseguições contra as supostas bruxas era mais intensa onde a rivalidade católica-protestante fosse mais forte. Isso explica por que a Alemanha, ponto zero para a Reforma, detém quase 40% de todos os processos por feitiçaria na Europa. Já a Escócia, onde diferentes denominações do protestantismo estavam em competição, detém o segundo maior nível de caça às bruxas, com um total de 3.563 pessoas julgadas.

Em contraste, na Espanha, Itália, Portugal e na Irlanda - cada uma das quais permaneceu uma fortaleza católica após a Reforma e nunca viu uma séria concorrência do protestantismo - representaram coletivamente apenas 6% dos casos de julgamento por feitiçaria na Europa, observa Russ, e isso devido nestas terras não haver necessidade de perseguição a rivais religiosos como aponta o estudo, já que a Inquisição atuava de forma coerciva contra qualquer inimigo da Igreja Romana e contava com o apoio dos monarcas na repressão aos não católicos.

Por volta de 1650, no entanto, o frenesi das bruxas começou seu declínio acentuado, com os processos por feitiçaria virtualmente desaparecendo em 1700. Leeson e Russ atribuem isso à Paz da Vestefália , uma série de tratados em 1648, que deu fim a diversas guerras religiosas na Europa.

Derrubando o revisionismo católico


Em círculos de apologética católica onde o revisionismo hipócrita impera, os dados da pesquisa tem sido usados de forma tortuosa para reforçar ataques ao protestantismo. Leitores desatentos com algum grau de preguiça intelectual disparam recortes descontextualizados e veiculam trechos tendenciosamente favoritistas, noticiando desinformações como: Protestantes mataram mais bruxas, a Igreja romana não dava bola para as bruxas e sequer as perseguia.


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Contudo o próprio estudo divulgado pelo The Guardian e citado pelo católico nesta imagem acima, desmente de forma cirúrgica a alegação favoritista do romanista.

Da pagina 20 em diante a pesquisa apontada no Estudo WITCH TRIALS de Peter T. Leeson e Jacob W. Russ demonstra que a Igreja Romana não só iniciou a caça as bruxas como também intensificou a caçada na era da Reforma devido um fator crucial... O AVANÇO DO PROTESTANTISMO.


O Protestantismo agora era uma opção válida, admitida e aceita em várias partes da Europa. Leis seculares e tratados de paz deram fim a conflitos por intolerância onde as contendas eram mortais e agora, uma desculpa precisava ser criada. As bruxas então foram o bode expiatório usado pela igreja romana contra seus rivais já que a inquisição não funcionava em algumas regiões de nações que aderiram ao protestantismo.

Portugal, Espanha e Itália não precisava de uma propaganda de caça as bruxas pois eram nações fiéis ao catolicismo, e toda e qualquer ameaça ali eram sanadas com a Inquisição, mas, na Alemanha e outras terras, a Igreja Romana não tinha tanta influência. Regiões inteiras agora podiam abraçar o protestantismo que se tornou um rival religioso muito promissor e é daí que se começa a disputa pelo mercado religioso contra o mal, como mencionado no Estudo. Quem provasse ter mais domínio contra o mal, certamente tinha Deus por suporte.

E vejam só, o artigo referido cita a catolicíssima Colônia como exemplo, que em sua "luta para manter o catolicismo em um principado cercado por príncipes luteranos e calvinistas ajudou a convencer [Friedrich] von Wittelsbach no final da década de 1620 a libertar sua maquinaria territorial completa para promulgar uma" solução final "para a questão das bruxas" (Waite, 2003, p. 163).

Da mesma forma, "Na Lorena e os três eleitorados arquiepiscopais na Renânia, todos os quais estavam próximos das terras protestantes, havia uma atitude religiosa "combativa "e também havia muitas caças de bruxas" (Levack, 2016, p.120). Karl von Liechtenstein e Karl Eusebius supervisionaram várias caças de bruxas como parte de seus esforços de recatolicização nos ducados de Troppau e Jägerndorf (Waite, 2003, pp. 214-15). 

Eles ainda mencionam que na tentativa de ganhar conversos ao catolicismo na Suíça contestada confessionalmente, o então - cardeal, mais tarde santo, Carlo Borromeo 'provou ser um enérgico caçador de bruxas "(Greengrass, 2014, p. 494).

"As piores caças de bruxas engolfaram o príncipado católico do sul, onde os bispos dominantes estavam lutando para fortalecer o catolicismo tridentino em seus pequenos reinos contra ... incursões protestantes" (Waite, 2003, p.115). 

O arcebispo Johann VII von Schönenberg, por exemplo, cujas terras no Sacro Império Romano já estavam sujeitas ao seu governo "não viu atividade intensa de caça às bruxas", mas ele apoiou a "zelosa busca de bruxas por toda a sua arquidiocese fora das terras que ele próprio governou, particularmente em áreas sobre as quais ele estava tentando estender sua autoridade "(Whaley, 2012, p.555). Encontrando-se "Rodeado por territórios protestantes maiores, o arcebispo usou demandas populares para julgamentos de bruxas para expulsar quaisquer dúvidas residuais sobre a verdade do dogma católico. "(Waite, 2013, página 502).

Mais esclarecimentos


Em toda a análise realizada que desmente o mito de que a "Cristandade teria exterminado milhões de bruxas", não há nada relacionado há "protestantes matando ou perseguindo mais bruxas enquanto os católicos nem davam bola pra elas" como esta sendo sugerido por católicos revisionistas que chegam ao cúmulo de sugerir que "como a inquisição espanhola não condenou muitas bruxas, então a igreja não caçava bruxas".

A nova análise sugere uma campanha do "bode expiatório" contra as supostas bruxas, usada primeiramente e iniciada pela Igreja Romana já que a inquisição perdeu seu efeito numa Alemanha infiel onde vários estados do Sacro Império agora eram livres para abraçar o protestantismo, então, os católicos não podiam confiar na exclusão coerciva através de Inquisições e cruzadas para aniquilar seus concorrentes. 

A caça as bruxas era mais intensa nas regiões de conflitos religiosos disputados pela Igreja e a Reforma Protestante. Por outro lado, em toda a Europa antes da Reforma, e onde o Protestantismo nunca ganhou terreno, a caça as bruxas não ocorreu em larga escala pois não havia necessidade de usar tal recurso de "demonização alheia" simplesmente devido Portugal, Espanha e Itália serem nações fiéis ao catolicismo, e toda e qualquer ameaça ali eram sanadas com a Inquisição.

Isso não significa que os protestantes eram os mocinhos ou que nunca lançaram mão no mesmo artificio romanista, muito pelo contrário, porém, embora denominações rivais no protestantismo em dados momentos fizessem uso de tal propaganda de caça as bruxas, quem iniciou e intensificou tais atos, foram os católicos, principalmente na Alemanha entre 1550 e 1650 pois não podiam mais se valer da Inquisição já que os reinos do Sacro Império agora eram livres para abraçar o protestantismo.



Licenciado e Pós-graduado em História. Bacharelando em Teologia. Cristão de tradição batista e acadêmico em apologética cristã...
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1 comentário

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  1. A técnica de demonização da igreja romana, perdura até boje. E eles são o estopim dos acontecimentos e sempre jogam nos braços, a culpa ao seu "adversário".