A mais honesta e sensata resposta sobre a Inquisição

Os protestantes não podem fazer essa reivindicação contra os católicos sem ter que se voltarem contra si mesmos. Nem os católicos podem fazer tal acusação contra os protestantes. A verdade de um determinado sistema de crença deve ser decidida por outros motivos.
catholic answers - sobre inquisição

A mais honesta e sensata resposta que um católico poderia oferecer sobre a Inquisição

O tema Inquisição tem cada vez mais esquentado os debates apologéticos entre católicos e protestantes. Felizmente, do lado protestante, os equívocos que antes inflamavam as objeções tem cada vez mais diminuído ao ponto de estatísticas exageradas serem descartadas e eventos específicos serem contextualizados. No entanto do lado católico tem havido o aumento de um despudorado revisionismo, ora negacionista, ora defensivo em torno dos eventos que são justificados numa via de mão dupla com dois pesos e duas medidas. Se de um lado estes revisionistas, minimizam os abusos das inquisições católicas os contextualizando ao que chamam de "à luz dos tempos", por outro lado, a mesma noção não é estendida aos eventos que envolvem o protestantismo sob esse mesmo contexto.

Sobre esse tema, encontrei um artigo com mais pedigree do que a maioria dos blogs e sites de apologética católica que vemos por aí. O artigo tem a aprovação NIHIL OBSTAT e o IMPRIMATUR da Igreja Romana e contém uma resposta sensata, livre de revisionismo ou vitimismo e oferece uma conclusão equilibrada sobre o tema Inquisição, tanto para católicos quanto para protestantes.

O artigo do site de apologética católica, o Catholic Answers aponta que as gerações anteriores de católicos romanos e protestantes entenderam que a heresia era tão gravemente séria que de fato justificava a pena de morte:

(...) é útil ressaltar que é fácil ver como aqueles que lideraram as Inquisições poderiam pensar que suas ações eram justificadas. A própria Bíblia registra casos em que Deus ordenou que consultas formais e legais - isto é, inquisições - fossem realizadas para expor crentes secretos em falsas religiões. Em Deuteronômio 17: 2-5 Deus disse: "Quando no meio de ti, em alguma das tuas portas que te dá o Senhor teu Deus, se achar algum homem ou mulher que fizer mal aos olhos do Senhor teu Deus, transgredindo a sua aliança. Que se for, e servir a outros deuses, e se encurvar a eles ou ao sol, ou à lua, ou a todo o exército do céu, o que eu não ordenei, E te for denunciado, e o ouvires; então bem o inquirirás; e eis que, sendo verdade, e certo que se fez tal abominação em Israel, Então tirarás o homem ou a mulher que fez este malefício, às tuas portas, e apedrejarás o tal homem ou mulher, até que morra." [observe essa frase: "então bem o inquirirás"]. É claro que havia alguns israelitas que se apresentavam como crentes e guardas da aliança com o Senhor, enquanto que internamente não acreditavam e praticavam secretamente falsas religiões e até tentavam espalhá-las (Deuteronômio 13: 6-11). 

Para proteger o reino de uma heresia tão escondida, esses profissionais secretos de falsas religiões tiveram que ser descartados e expulsos da comunidade. Esta diretriz do Senhor aplicou-se mesmo a cidades inteiras que se afastaram da verdadeira religião (Deuteronômio 13: 12-18). Como Israel, a Europa medieval era uma sociedade de reinos cristãos que eram formalmente consagrados ao Senhor Jesus Cristo. Portanto, é bem compreensível que esses católicos lessem suas Bíblias e concluíssem que, para o bem de sua sociedade cristã, como os israelitas diante deles, "deveriam purgar o mal do meio deles" (Deuteronômio 13: 5, 17: 7, 12). Paulo repete esse princípio em 1 Coríntios 5:13.

Estes mesmos textos foram interpretados de forma semelhante pelos primeiros protestantes, que também tentaram erradicar e punir aqueles que eles consideravam hereges. Lutero e Calvino aprovaram o direito do Estado de proteger a sociedade purgando falsas religiões. Na verdade, Calvino não apenas expulsou de Genebra aqueles que não compartilharam seus pontos de vista, como permitiu e, em alguns casos, ordenou que outros fossem executados por "heresia" (por exemplo, Jacques Gouet, torturado e decapitado em 1547, e Miguel Servetus queimado em 1553). Na Inglaterra e na Irlanda, os reformistas se envolveram em suas "inquisições" e execuções implacáveis. As estimativas conservadoras indicam que milhares de católicos ingleses e irlandeses foram mortos - muitos por ser enforcados, atraídos e separados - por praticar a fé católica e se recusar a tornar-se protestante. Um número ainda maior foi forçado a fugir para o continente por sua segurança.

Apontamos isso para mostrar que a situação era uma rua de mão dupla; e ambos os lados entenderam facilmente a Bíblia para exigir o uso de sanções penais para erradicar falsas religiões da sociedade cristã.

Nossos antepassados ​​de ambos os lados foram culpados de terem cometido o que hoje consideramos como crueldades e execuções em nome de sua fé. Então porque nos acusarmos mutuamente uns aos outros por tais fatos? Talvez a tentativa de argumentação seja apontar para "quem teria matado mais", no entanto, simplesmente um lado ter matado menos isso não significa que seja menos culpado diz o artigo.

O artigo especifica que houve várias inquisições diferentes promovidas pelo catolicismo romano. A primeira foi estabelecida em 1184 no sul da França como resposta à heresia dos Cataristas. Isso era conhecido como a Inquisição Medieval, e foi eliminada com o desaparecimento do Catarismo. Muito separada foi a Inquisição romana, iniciada em 1542. Foi a menos ativa e segundo o site, a mais benigna das três variações.

Já a infame Inquisição espanhola, iniciada em 1478, foi uma instituição estatal usada para identificar Conversos - Judeus e Mouros (muçulmanos) que fingiram se converter ao cristianismo para fins de vantagem política ou social e praticavam secretamente sua antiga religião. Mais importante ainda, seu trabalho era também limpar os bons nomes de muitas pessoas que foram falsamente acusadas de serem hereges. Foi a Inquisição espanhola que, pelo menos na imaginação popular, teve o pior registro ao cumprir esses deveres e as várias inquisições se estenderam durante a maior parte de um milênio e que podem ser chamadas coletivamente de "Inquisição" não existiam no norte da Europa, Europa Oriental, Escandinávia ou Inglaterra, sendo confinadas principalmente ao sul da França, Itália, Espanha e algumas partes do Sacro Império Romano e portanto, a especulação de que dezenas de milhões de pessoas teriam sido mortas pela inquisição não se corrobora porque aquelas partes da Europa não tinham tanta gente para ser morta.

O artigo também chama a atenção para o equivocado erro dos católicos revisionistas:
Alguns escritores católicos, particularmente aqueles menos interessados ​​em cavar a verdade do que em difundir uma crítica da Igreja, ignoraram fatos incontestáveis ​​e tentaram acalmar a Inquisição. Isso é tanto um desserviço da verdade quanto o exagero dos pontos negativos da Inquisição. Esses apologistas bem intencionados, mas equivocados, (...) temem, enquanto os outros esperam, que os fatos sobre a Inquisição possam provar a ilegitimidade da Igreja Católica.

Não tenha medo dos fatos


O artigo católico então concluí o seguinte: "Não tenha medo dos fatos"

A Igreja não tem nada a temer da verdade. Nenhum relato da tolice, do zelo mal direcionado ou da crueldade dos católicos pode desfazer os fundamentos divinos da Igreja, porém, é certo que essas coisas são obstáculos para os católicos e os não-católicos. O que deve ser atribuído é que a Igreja contém em si mesmo todos os tipos de pecadores e de servos, e alguns deles obtêm cargos de responsabilidade. Paulo e o próprio Cristo nos advertiram que haveria alguns lobos vorazes entre líderes da Igreja (Atos 20:29, Mateus 7:15).

Pensando que os fundamentalistas podem ter um ponto em seus ataques à Inquisição, os católicos tendem a ser defensivos. Esta é a atitude errada; Em vez disso, devemos aprender o que realmente aconteceu, compreender os acontecimentos à luz dos tempos e, em seguida, explicar aos anti-católicos por que o triste conto não prova o que acham que isso prova.

Por fim o artigo admite: "O fato de que os reformadores protestantes também criaram inquisições para erradicar os católicos e outros que não se encaixavam nas doutrinas da seita protestante local, mostra que a existência de uma inquisição não prova que um movimento não seja de Deus. Os protestantes não podem fazer essa reivindicação contra os católicos sem ter que se voltarem contra si mesmos. Nem os católicos podem fazer tal acusação contra os protestantes. A verdade de um determinado sistema de crença deve ser decidida por outros motivos"

Ponto a considerar


E aqui temos um ponto a considerar, assim como casos de conversão não devem ser usados como argumento apologético para se validar uma posição religiosa (veja isso aqui), o mesmo se aplica a questões envolvendo a Inquisição Católica ou as Investidas Protestantes. Como foi dito e é algo que podemos aceitar, a verdade de um determinado sistema de crença deve ser decidida por outros motivos.



Att: Elisson Freire





Licenciado e Pós-graduado em História. Bacharelando em Teologia. Cristão de tradição batista e acadêmico em apologética cristã...
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