Sola Scriptura e o Sectarismo Pseudocristão

O Sola Scriptura é responsável pelo sectarismo pseudocristão ou é admitido entre as seitas?
Sola Scriptura x Sectarismo

Sola Scriptura e o Sectarismo Pseudocristão

A argumentação católica de que seitas pseudocristãs também fazem uso da máxima da Reforma Protestante como base para as suas doutrinas falsas sempre é usada para invalidar o princípio de Sola Scritura. Segundo essa argumentação, não podemos dizer que as heresias da seita X ou Y são ensinos falsos porque elas "também usam" do conceito de Sola Scriptura, e portanto não podemos rechaçar esses ensinos nefastos.

Tal argumentação no entanto trata-se de uma falácia espantalho. A falácia espantalho é um tipo de argumento incorreto em que o debatedor, intencionalmente ou não, ignora referentes (significados) do posicionamento do adversário, substituindo tudo por uma versão mais ou menos distorcida que não representa o que de fato seu adversário defende. Ao alegarem que o Sola Scriptura é um príncipio também adotado por sectários como mormóns, russelitas (testemunhas de Jeová), unicistas, sabatistas e afins, duas coisas devem ser apontadas para expor a falaciosidade da argumentação:
  • 1- O que realmente é o Sola Scriptura;
  • 2- O sectarismo pseudocristão jamais se submeteu ao Sola Scriptura, surgindo exatamente da rejeição a este príncípio.
A abordagem sobre a temática proposta no título deste artigo foi elaborada inicialmente por Thiago Dutra (o mais antigo colaborador deste blog). Tão oportuno e necessário conteúdo (aqui e aqui) foi revisado e reestruturado para expormos uma refutação detalhada contra o espantalho romanista acerca do Sola Scriptura bem como a correta compreensão do que é Sola Scriptura além de precisamente apontar evidências de que nenhuma dita seita supra citada adota este princípio elementar da Reforma Protestante.

O que realmente é o Sola Scriptura

Sola Scriptura é acima de tudo a idéia de que todas as doutrinas concernentes à fé Cristã, devem constar e/ou serem provadas nas Escrituras. O Sola Scripturista acredita que apenas a Escritura é fonte e regra máxima infalível e inapelável quanto ao depósito de fé, doutrina, prática e moral cristã. Isso não significa que não exista outras fontes ou regras mas sim que, a Escritura e somente ela tem a palavra final nestas questões. 

A Escritura para Jesus Cristo e os Apóstolos, tinha um valor supremo e inapelável, era canónica, obrigatória e normativa, ao passo que a tradição não se equiparava ao valor das Escrituras e estava subordinada a estas de tal modo que, mesmo que inicialmente os ensinamentos de Cristo e dos apóstolos tenham se dado na forma oral, houve a necessidade de os manter por escrito e tais escritos foram por eles mesmos postos em pé de igualdade com as Escrituras do Antigo Testamento, ambos sob a inspiração do Espirito Santo.  Logo, o princípio de Sola Scriptura era algo que eles aceitavam, não porque as Escrituras afirmassem em algum lugar que eram a autoridade final, o que seria viciosamente circular, mas porque reconheciam que as Escrituras eram Palavra de Deus e daí derivava a sua autoridade final.

O costume, a tradição e o Magistério ou o governo da Igreja tem uma petição de consideração na análise de questões, mas apenas de natureza consultiva, onde caso haja divergências com as Escrituras, elas, as Escrituras, terão primazia e preeminência em qualquer decisão a respeito pois, partimos do pressuposto de que a Bíblia e somente a Bíblia é a autoridade máxima em termos de fé, religião e doutrina, sendo a mesma infalível e impassível de anulação ou falha – João 10.35. 

Nas palavras de Agostinho a Jerônimo no ano 405d.C, temos:
Pois confesso à sua Caridade que aprendi a conceder esse respeito e honra apenas aos livros canônicos das Escrituras: somente destes acredito firmemente que os autores estavam completamente livres de erros. E se nestes escritos fico perplexo com algo que me parece contrário à verdade, não hesito em supor que o manuscrito está com defeito, ou o tradutor não entendeu o significado do que foi dito, ou eu mesmo não consegui entender. Quanto a todos os outros escritos, ao lê-los, por maior que seja a superioridade dos autores sobre mim em santidade e aprendizado, não aceito seus ensinamentos como verdadeiros com base apenas na opinião deles; mas apenas porque eles conseguiram convencer meu julgamento de sua verdade por meio desses próprios escritos canônicos ou por argumentos dirigidos à minha razão.
Agostinho - Carta 82, Capítulo 1:3 [negrito acrescentado]

Portanto, o princípio de Sola Scriptura, é um pressuposto teológico de que existe uma "Escritura Sagrada", cuja autoridade suprema e final em questões de fé e moral, fundamenta-se na sua própria natureza de Palavra de Deus, inspirada pelo Espírito Santo. Então, para refutar o Sola Scriptura é preciso demonstrar que existe a par das Escrituras, uma outra fonte extra-bíblica, que não sendo mencionada nas Escrituras, é igualmente inspirada por Deus tendo uma autoridade idêntica às Escrituras, e contém verdades reveladas por Deus que não se encontram nas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos. É exatamente isso que os apologistas católicos não conseguem fazer desde os tempos iniciais da Reforma Protestante. 

Como não podem refutar o Sola Scriptura ou o admitir, pois isso significaria que não passam de uma seitola infestada de heresias, lhes resta distorcer o real significado do que atacam e criar especulações tão falaciosas quanto a parca "refutação" que dizem oferecer.

Sectarismo Pseudocristão em total oposição ao Sola Scriptura

Sob a perspectiva e apontamento básico do que é Sola Scriptura, será mesmo que seitas pseudocristãs aderem a este princípio? Abaixo são apontados como exemplo dois grupos sectários bem conhecidos por todos, para analisar se realmente o princípio Magno da Reforma também é usado por seitas.

Testemunhas de Jeová

São os "arianos" da modernidade. Também chamados de "russelitas", tem várias literaturas através das quais extraem e propagam suas doutrinas falsas e perniciosas tais como: DespertaiA Sentinela, o livreto “O que a Bíblia realmente ensina?” dentre outros. Mas, há um que se destaca, principalmente pela declaração feita sobre essa obra intitulada de Estudos das Escrituras. Essa obra publicada pelo heresiarca fundador da seita, Charles Taze Russell, é dividida em 06 volumes. Originalmente, a série de volumes era chamada de Aurora do Milênio ("Millennial Dawn"), mas posteriormente, o título da série foi alterado para "Studies in the Scriptures" (Estudos das Escrituras) onde cada volume possui os seguintes títulos: O PLANO DIVINO DAS ERAS;  O TEMPO ESTÁ PRÓXIMO; VENHA O TEU REINO; A BATALHA DO ARMAGEDOM; A EXPIAÇÃO ENTRE DEUS E O HOMEM e A NOVA CRIAÇÃO

Há uma problemática imensa quanto ao que é afirmado acerca dessa série de volumes publicados por Russel. Afirmações como "são praticamente a Bíblia organizada", "SÃO PRATICAMENTE A PRÓPRIA BÍBLIA" — “The Watch Tower” de Setembro de 1910, p. 298 (em inglês), colocam tais esccritos no mesmo nível que a Bíblia, sendo os mesmos considerados basicamente a Bíblia em si, o que é completamente contrário ao Sola Scriptura. 

Testemunhas de Jeová apesar de crêrem que a Bíblia é a Palavra de Deus, afirmam que para compreender o sentido correto das Escrituras é necessário e vital que se faça isso seguindo os escritos de Russel e de Rutherford, do contrário, estudar  a Bíblia sem a orientação dos escritos Russelitas, pode levar o leitor a obscuridade enquanto que o que não lê a Bíblia, porém lê os escritos de Russel, terá a luz. 

Ná prática, eles tem seu próprio Magistério onde só aceitam a interpretação da Bíblia segundo os escritos de Russel e assim substituem a Bíblia por seus próprios ensinamentos. Ensinamentos que por sua vez os levam a não apenas deturpar o que diz a Escritura como também negar verdades fundamentais da fé cristã tais como: Trindade, Divindade de Cristo consubstancial ao Pai, ressurreição corporal de Cristo, tormento eterno. Doutrinas que são expressas em nossas confissões de fé, conforme demonstramos aqui.

Diante de tais observações e à luz do que é o Sola Scriptura, podemos concluir que de fato Testemunhas de Jeová, não aderem, nem fazem uso deste princípio.

Mórmons

Segundo as próprias palavras deste gupo igualmente sectário:
Esta doutrina assenta nas quatro obras de “escrituras padrão” (a Bíblia Sagrada, o Livro de Mórmon, Doutrina & Convénios e a Pérola de Grande Valor), declarações e proclamações oficiais e os Artigos de Fé.
Compreendendo a Doutrina Mórmon
Nas palavras da própria organização religiosa: 
  • Doutrinas e Convénios –  é um dos quatro livros de escrituras usados em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (os outros três são a Bíblia, o Livro de Mórmon e a Pérola de Grande Valor). O Senhor disse ao profeta Joseph Smith: “Esta geração, porém, receberá minha palavra por teu intermédio” (Doutrina e Convênios 5:10). 
  • Pérolas de Grande Valor – É um dos volumes de escrituras que compõem as obras-padrão da Igreja. Inclui trechos da Tradução de Joseph Smith tida como "versão inspirada" da Bíblia, bem como uma tradução de alguns papiros egípcios contendo os escritos do profeta Abraão, extratos do testemunho e da história de Joseph Smith e as Regras de Fé utilizadas pelos mórmons.
E por último e não menos importante;
  • O Livro de Mórmon  – "É OUTRO TESTAMENTO DE JESUS CRISTO" e supostamente "confirma as verdades que se encontram na Bíblia".
Segundo os mórmons, ambos os volumes de escritura são compilações de ensinamentos conforme registrados por profetas antigos. Enquanto a Bíblia detalha os eventos do oriente, o Livro de Mórmon documenta a vida dos habitantes das Américas antigas. Em "Regras de Fé, artigo 8" a teologia mórmon diz: Cremos ser a Bíblia a palavra de Deus, desde que esteja traduzida corretamente; também cremos ser o livro de Mórmon a palavra de Deus.

Os mórmons assim como os russelitas testemunhas de Jeová, colocam suas obras em paralelo com as Escrituras e também como as TJS, não se consideram Protestantes, e jamais serão.

Sola Scriptura em total oposição ao Sectarismo Pseudocristão

É importante destacar o fato de que tais essas seitas pseudo-cristãs, dentre outras, colocam seus escritos em pé de igualdade com a Bíblia, e no caso dos mórmons seus escritos são inclusive chamados de ESCRITURA. Conforme descrito acima, nós, Protestantes, adeptos da Sola Scriptura consideramos somente a Bíblia como depósito de fé, sem qualquer necessidade de acréscimo tampouco subtração. Como exemplo, citamos a Confissão Belga, uma das nossas confissões de fé:

A Sagrada Escritura: Perfeita e Completa

Cremos que esta Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e suficientemente ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo [1]. Nela, Deus descreveu, por extenso, toda a maneira de servi-Lo. por isso, não e lícito aos homens, mesmo que fossem apóstolos "ou um anjo vindo do céu", conforme diz o apóstolo Paulo (Gálatas 1:8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada Escritura [2]. É proibido "acrescentar algo a Pa lavra de Deus ou tirar algo dela" [3] (Deuteronômio 12:32; Apocalipse 22:18,19). Assim se mostra claramente que sua doutrina é perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa [4].

Não se pode igualar escritos de homens, por mais santos que fossem os autores, às Escrituras divinas. Nem se pode igualar à verdade de Deus costumes, opiniões da maioria, instituições antigas, sucessão de tempos ou de pessoas, ou concílios, decretos ou resoluções [5]. Pois a verdade está acima de tudo e todos os homens são mentirosos (Salmo 116:11) e "mais leves que a vaidade" (Salmo 62:9).

Por isso, rejeitamos, de todo o coração, tudo que não está de acordo com esta regra infalível [6], conforme os apóstolos nos ensinaram: "Provai os espíritos se procedem de Deus" (l João 4:1), e: "Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa" (2 João :10).
1 2Tm 3:16,17; 1Pe 1:10-12. 2 1Co 15:2; 1Tm 1:3. 3 Dt 4:2; Pv 30:6; At 26:22; 1Co 4:6. 4 Sl 19:7; Jo 15:15; At 18:28; At 20:27; Rm 15:4. 5 Mc 7:7-9; At 4:19; Cl 2:8; 1Jo 2:19. 6 Dt 4:5,6; Is 8:20; 1Co 3:11; Ef 4:4-6; 2Ts 2:2; 2Tm 3:14,15.
Os pais da igreja fazem coro conosco ao afirmarem o seguinte:

JUSTINO DE ROMA
"Não temos algum mandamento de Cristo que nos obrigue a crer nas tradições e nas doutrinas humanas, mas somente naquelas que os bem-aventurados profetas promulgaram e que Cristo mesmo ensinou, e eu tenho cuidado de referir todas as coisas ÀS ESCRITURAS e pedir A ELAS os meus argumentos e as minhas demonstrações”
Justino Mártir, Diálogo com Trifão

“Mas agora, por meio dos conteúdos da Escritura estimada santa e profética entre vós, eu tentar provar tudo o que eu tenho apresentado, na esperança de que algum de vocês possa ser encontrado para ser parte do remanescente, que foi deixado pela graça do Senhor dos Exércitos, para a salvação eterna”
Diálogo com Trifão, Cap.32

“Mas você me parece não ter ouvido as Escrituras o que eu disse que tinha apagado. Para tal como foram citadas são mais do que suficiente para provar os pontos em disputa, além daqueles que são mantidas por nós, e ainda serão apresentados”
Diálogo com Trifão, Cap.73

IRINEU
“O verdadeiro conhecimento é a doutrina dos Apóstolos, e a antiga constituição da Igreja em todo o mundo, e a manifestação distinta do Corpo de Cristo conforme as sucessões dos bispos, pelas quais eles transmitiram aquela Igreja que existe em todos os lugares, e chegou até nós, sendo guardada e preservada sem nenhuma falsificação nas Escrituras, POR UM SISTEMA MUITO COMPLETO DE DOUTRINA, E SEM RECEBER ADIÇÃO NEM SUBTRAÇÃO; e a leitura [da Palavra] sem falsificação, e uma exposição lícita e diligente em harmonia com as Escrituras, sem perigo nem blasfémia, e o preeminente carisma do amor, o qual é mais precioso do que o conhecimento, mais glorioso do que a profecia, e que excede todos os outros dons”
Contra as Heresias IV, 33,8

CLEMENTE DE ALEXANDRIA
“Tudo o que é imposto para a vida material é vinculativo para a multidão, mas o que é adaptado para viver bem, isto é, as coisas pelas quais a vida eterna é adquirida, deve ser capaz de ser reunida a partir das Escrituras por aqueles que a leem” 
Cristo, o Educador, 13

TERTULIANO
“Mostre-nos a escola de Hermógenes QUE O QUE ELA ENSINA ESTÁ ESCRITO: se não está escrito, trema em vista do anátema fulminado contra aqueles que acrescentam à Escritura, ou tiram alguma coisa dela”
Tertuliano, Contra Hermógenes, cap. 22

“Certamente não se poderia crer até mesmo nestas coisas mesmo do Filho de Deus, A MENOS QUE ELAS FOSSEM DADAS A NÓS NAS ESCRITURAS”
Contra Práxeas, 16

HIPÓLITO DE ROMA
“Há, porém, irmãos, um só Deus, e o conhecimento que nós ganhamos disso provém das Sagradas Escrituras, E DE NENHUMA OUTRA FONTE”
Contra Noetus, 9

ORÍGENES
“Não observo que seja grandemente confirmado pela autoridade da sagrada Escritura; ao passo que, em relação aos restantes dois, se encontra um considerável número de passagens nas sagradas Escrituras que parecem passíveis de ser-lhes aplicados”
De Principii, 4

“No entanto, se em todas as coisas desta roupagem, isto é, se em tudo o que se encontra na história da lei, fossem guardadas as conseqüências e conservada a ordem, de tal modo que nela a inteligência pudesse conservar um curso contínuo de entendimento, não acreditaríamos que pudesse haver mais nada inserido mais profundamente nas Sagradas Escrituras do que isto que nos é manifestado na sua superfície”
De Principiis, Livro IV, Cap.15

“Exortados assim brevemente pela própria lógica e coerência do assunto, embora nos tenhamos estendido um pouco, seja suficiente o que dissemos para mostrar que há algumas coisas cuja significação não pode ser explicada por nenhum discurso da língua humana, mas que são declaradas por uma inteligência mais simples do que as propriedades de quaisquer palavras. A esta regra deve ater-se também a inteligência das letras divinas, e considere-se o que se diz não pela vileza da palavra, mas pela divindade do Santo Espírito que inspirou quem as escreveu”
De Principiis, Livro IV, Cap.27

EUSÉBIO DE CESARÉIA
"Faz muito e bem longo tempo, querido Avircio Marcelo, que tu me ordenaste escrever algum tratado contra a heresia dos chamados “de Milcíades”, mas até agora de certa maneira sentia-me indeciso, não por dificuldade em poder refutar a mentira e dar testemunho da verdade, mas por temor de que, apesar de minhas precauções, parecesse a alguns que de certo modo acrescento ou junto algo novo à doutrina do Novo Testamento, AO QUAL NÃO PODE JUNTAR NEM TIRAR NADA quem tenha decidido viver conforme este mesmo Evangelho"
História Eclesiástica, Livro V, 16:3

ATANÁSIO DE ALEXANDRIA
“As Sagradas Escrituras são inspiradas E SÃO TOTALMENTE SUFICIENTES para a proclamação da verdade”.
Contra os pagãos 1, 3

“Mas a Sagrada Escritura É EM TODAS AS COISAS MAIS DO QUE SUFICIENTE PARA NÓS. Portanto, recomendo àqueles que desejam conhecer mais sobre esses assuntos, que leiam a palavra divina”.
Para os bispos do Egito 1, 4

“Em vão, então, são executados com o pretexto de que eles exigiram Concílios, POIS A DIVINA ESCRITURA É SUFICIENTE SOBRE TODAS AS COISAS, mas se um Concílio for necessário neste ponto, há os trabalhos dos Pais, para que os bispos de Niceia não negligenciem esta questão, mas afirmem a doutrina tão exatamente que as pessoas, lendo suas palavras, não possam deixar de se lembrarem da religião em direção a Cristo, anunciada na divina Escritura”.
De Synodis 1, 6

CIRILO DE JERUSALÉM
“Que este selo permaneça sempre em tua mente, o qual foi agora, por meio do sumário, colocado em teu coração e que, se o Senhor o permitir, daqui em diante, será elaborado de acordo com nossas forças por provas da Escritura. Porque, concernente aos divinos e sagrados Mistérios da Fé, é nosso dever não fazer nem a mais insignificante observação sem submetê-la às Sagradas Escrituras, nem sermos desviados por meras probabilidades e artifícios de argumentos. Não acreditem em mim porque eu vos digo estas coisas, a menos que recebam das Sagradas Escrituras a prova do que vos é apresentado: porque esta salvação, a qual temos pela nossa fé, NÃO NOS ADVÉM DE ARRAZOADOS ENGENHOSOS, MAS DA PROVA DAS SAGRADAS ESCRITURAS”.
“The Catechetical Lectures of S. Cyril” Lecture 4.17

“Pois os artigos de Fé NÃO FORAM COMPOSTOS AO BEL-PRAZER DOS HOMENS: antes, os mais importantes pontos dela foram selecionados a partir de todas as Escrituras, FORJANDO O ÚNICO ENSINO DA FÉ. E, como a semente de mostarda em seu pequeno grão contém muitos ramos, assim também esta Fé, em umas poucas palavras, tem abrangido em seu seio o pleno conhecimento da piedade contido em ambos, Antigo e Novo Testamentos”.
“The Catechetical Lectures of S. Cyril” Lecture 5.12

“Mas aprendendo a Fé e a professando, tenhais em mente e conservai aquilo somente que vos é agora transmitido pela Igreja e QUE FOI ESTRUTURADO FORTEMENTE NAS ESCRITURAS”.
Leituras Catequéticas, 5,12

“É adequado [ao citar o Credo] esperar a confirmação da Sagrada Escritura acerca e cada parte do conteúdo. Pois os artigos de Fé não foram compostos conforme pareceu bem aos homens, mas sim conforme os pontos mais importantes recolhidos de toda a Escritura, QUE CONSTITUEM UM ENSINO COMPLETO DA FÉ”.
Leituras Catequéticas, 5,12

“Vamos então falar sobre o Espírito Santo, mas do que está escrito; e tudo o que não está escrito, não vamos nos ocupar com isso. O próprio Espírito Santo falou pelas Escrituras, Ele também falou sobre Ele, tanto quanto quisesse, ou tanto quanto nós poderíamos receber. Vamos, portanto, falar as coisas que ele disse, pois tudo o que Ele não disse, NÃO NOS ATREVEMOS A DIZER... pois se tivesse sido escrito, teríamos falado dele, MAS O QUE NÃO ESTÁ ESCRITO NÃO VAMOS NOS ARRISCAR”.
Leituras Catequéticas, 16

“NEM HOJE USAMOS AS SUTILEZAS DOS HOMENS, O QUE SERIA INÚTIL, mas apenas chamamos a atenção para o que vem das divinas Escrituras, PORQUE ESTE É O CAMINHO MAIS SEGURO”.
Leituras Catequéticas, 17

BASÍLIO MAGNO
“Como você usufrui das Escrituras, não necessita nem de minha ajuda, nem da de ninguém para ajudá-lo a compreender o seu dever. VOCÊ TEM O CONSELHO TODO-SUFICIENTE E ORIENTAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO PARA LEVÁ-LO AO QUE É CERTO”.
Epístola 283

“Mas, esta forma de dar glória nos é recusada, POR NÃO CONSTAR DAS ESCRITURAS”.
Tratado sobre o Espírito Santo. Cap 67

“Rejeitar alguma coisa que se encontra nas Escrituras, OU RECEBER ALGUMAS COISAS QUE NÃO ESTÃO ESCRITAS, é um sinal evidente de infidelidade, é um ato de orgulho... o fiel deve crer com plenitude de espírito todas as coisas que estão nas Escrituras SEM TIRAR OU ACRESCENTAR NADA”.
Basílio, Lib. De Fid. – regul. Moral. Reg. 80; citado por Luigi Desanctis em La tradizione, terceira ed. Firenze 1868, pag. 19

AMBRÓSIO DE MILÃO
“Quem ousará falar quando a Escritura cala? NÓS NADA DEVEMOS ACRESCENTAR À ORDEM DE DEUS; se vós acrescentais ou tirais alguma coisa SOIS RÉUS DE PREVARICAÇÃO”.
Ambrósio, Lib. II de vocat. Gent. Cap. 3 et lib. De parad. Cap. 2; citado por Luigi Desanctis in op. Cit., pag. 19

“Eis o conteúdo da Escritura divina. Deveríamos audaciosamente ULTRAPASSAR OS LIMITES (POSTOS) PELOS APÓSTOLOS? Acaso somos mais prudentes do que os apóstolos?”.
Explicação do Símbolo, Cap.3

AGOSTINHO DE HIPONA

“Ainda que um anjo do céu vos anuncie outro evangelho QUE VÁ ALÉM DO VOCÊ RECEBEU NA ESCRITURA EVANGÉLICA, SEJA ANÁTEMA”
Resposta a Petiliano, o Donatista III, 6

“Pois os raciocínios de quaisquer homens que seja, mesmo que seja católico e de alta reputação, NÃO É PARA SER TRATADO POR NÓS DA MESMA FORMA QUE A ESCRITURA CANÔNICA É TRATADA.”
Carta 148, 4

O Sectarismo pseudocristão não é resultado do Sola Scriptura

Tendo como base o real significado do Sola Scriptura conjuntamente ao testemunho genuíno de autoridades da igreja primitiva notamos que os responsáveis por levar a cristandade à anarquia doutrinária são as supostas tradições orais, contrárias ou alheias as escrituras e a rejeição da suficiência escrituristica aliadas a pretensões particulares. Logo, isso é mais uma razão pela qual você precisa aplicar o Sola Scriptura já que, em se tratando de Tradição, tanto a Igreja Católica Romana quanto a Ortodoxa afirmam possuir a verdadeira tradição da igreja apostólica, embora difiram tanto na doutrina e na liturgia, que nem mesmo estão "em comunhão" umas com as outras. Obviamente; então, usar a tradição também cria tantas doutrinas diferentes quanto as que existem nas igrejas protestantes.

Para além disso, o sectarismo pseudocristão existe desde os tempos inicipais da cristandade, quando supostamente o cristianismo (segundo os romanistas) só contava com seu magistério e papado infáliveis (que ou para nada valiam ou sequer existiam). Já nos primeiros séculos haviam falsas religiões e seitas que usavam as Escrituras de forma conveniente ou paralela às suas reinvidicações como o nicolaismo, docetismo, gnosticismo, marcionismo, montanismo, unicismo, arianismo, monofisismo, monotelismo, pelagianismo e maniqueísmo. Todos esses grupos se mesclavam ao cristianismo em maior ou menor grau por todo o primeiro mílênio, tido por romanistas, como um monólito de unidade eclesiástica sob a autoridade papal. Mera ilusão. 

Os bispos de Roma por essa época não passavam de lacaios servindo muitas vezes aos próprios interesses ou aos do imperador que quando bem queria, depunha e nomeava os tais papas ignorados e desconhecidos em sua suposta primazia não fosse quando que, por consideração do oriente e africanos, ganhavam algum prestigio remotamente atribuído não por sua autoridade mas em respeito a sua cadeira apostólica que ocupavam, que não era a única convém lembrar.

No auge do poder papal e com um magistétio bem estabelecido outras seitas surgem como o catarismo, taborismo, jansenismo, sede-vacantismo, vetero-catolicismo e mais uma centena de ismos e idéias todas contrárias ao catolicismo romano. Será então o SOLA ECLÉSIA ou o magistério e papado romanista responsável por tanta baderna e divisão? A existência destas facções, divisões, contendas, conflitos, seitas e heresias dentro do catolicismo romano acaso invalidam a  eficiência do magistério e do papado? Segunda a apologética autorefutante e desbotada do catolicismo romano, SIM. Vide os argumentos que usam contra o Sola Scriptura. 

Além dos conflitos internos que a cristandade mantinha em seu seio, muitas dessas seitas tanto interna como externamente se opunham não apenas a ortodoxia do cristianismo como também desconheciam ou desconsideravam qualquer pretensão papal e romanista e quando combatidas, certamente que não era a infalibilidade papal ou a primazia romana que os antigos pais da igreja recorriam (pois isso sim não existia). Todas essas seitas e suas heresias foram habilmente combatidas pela Escritura, e mesmo que alguma memória da "tradição" fosse usada, apenas confirmava ou não violava o expresso na Escritura. Não é a toa que de alguma forma, toda seita busca alguma validade apelando a distorções bíblicas sempre que a Escritura não a favorece.

Conclusão

As seitas pseudocristãs tem depósitos de fé secundários totalmente avulsos às Escrituras, assim como o catolicismo romano e dessa forma já violam descaradamente o princípio de Sola Scriptura de forma gritante. Em seu escopo particular possuem doutrinas completamente estranhas às Escrituras sendo alheias ao que é professado no protestantismo desde o início da Reforma. Isso por si só já demonstra que não somente as seitas aqui citadas como também qualquer outra que se comporte de maneira similar, jamais se valeu do Sola Scriptura e sequer podem ser consideradas como patrimônio do cristianismo neo-testamentário cuja integridade advém da submissão a autoridade dos ensinos apostólicos, encontrados fiel e infalívelmente apenas na Escritura.

As falsas religiões, as seitas e as heresias como vimos, sempre existiram, algumas até mesmo no meio católico romano. A Sola Scriptura nada tem a ver com o surgimento delas, pois ao contrário do Argumento espantalho levantado por nossos opositores, existe uma diferença abissal entre conferir nas Escrituras a veracidade de um ensinamento (como sugere o Sola Scriptura e o livre-exame) e, o uso arbitrário das Escrituras para convenientemente forçar interpretações particulares como fazem essas seitas ao modo do próprio catolicismo romano. Essa última atitude de interpretação arbitrária de textos geralmente isolados da Bíblia para se validar uma posição particular não é nem de longe o princípio da Sola Scriptura, tão pouco se configura como uma prática oriunda da genuína tradição da igreja primitiva.

A evidência patrística, histórica e escrituristica demonstra até mesmo que esse moderno Catolicismo Romano (falaciosamente defendido por apologistas virtuais) sequer pode ser considerado patrimônio original fruto da igreja primitiva (surgindo após o grande Cisma com o oriente na verdade) exatamente por violar a suficência da Escritura, quando de forma similar as seitas, visa suas próprias pretensões e rejeita que a Escriitura seja única fonte e autoridade infalível para lidar com questões de fé, doutrina, moral e prática cristãs. 

Note que não estamos afirmando que a Escritura é a única fonte de autoridade "NA" igreja, mas sim "PARA" a igreja. Certamente reconhecemos a existência e a necessidade de outras fontes de autoridade e verdade na igreja como a tradição e o governo da igreja por exemplo. No entanto, enfatizamos que a Escritura detém a primazia, sendo para a Igreja, fiéis, tradição, magistério e governo, a fonte máxima e infalível de autoridade em questões salvíficas, doutrinarias e morais. 

Os detratores da fé Protestante são carentes de honestidade intelectual e cada vez mais se valem do complexo leninista em nos acusar daquilo que são eles os responsáveis. Portanto, toda vez que um católico romano vier com a conversa fiada de que seitas fora do catolicismo usam o mesmo princípio que nós, use esse artigo contra ele, e complemente com esta precisa observação vinda das próprias fileiras católicas:
"Por mais forte que seja a tentação em querer caracterizar qualquer coisa que não seja católica ou ortodoxa como "protestante", você não pode fazer isso. Tudo o que diz aos apologistas protestantes é que você não sabe o que é protestantismo, ou quais são suas características – e eles estariam certos. E por que eles levariam qualquer coisa que você diz a sério depois disso? Se você não sabe o que é o protestantismo,...(...). Os mórmons, as Testemunhas de Jeová, os Pentecostais da Unicidade, os Unitários, os crentes do Evangelho da Prosperidade (incluídos entre 23.600 Independentes e Marginais) sequer são protestantes, como também nem são cristãos; eles aderem a uma cristologia falsa. Protestantes e católicos estão de acordo sobre quem é Cristo; esses outros grupos têm outras idéias".


Licenciado e Pós-graduado em História. Bacharelando em Teologia. Cristão de tradição batista e acadêmico em apologética cristã...
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